O PP, maior partido no Estado em número de prefeituras e com 10 mil novos filiados, se prepara para as eleições de 2012 com a meta de aumentar em 10% os atuais 148 prefeitos no Rio Grande do Sul. O trunfo é a senadora Ana Amélia Lemos (PP), considerada a “grande líder” e “eficiente operária do partido”, nas palavras do presidente recém-eleito da legenda, Celso Bernardi. Mais do que cabo eleitoral em 2012, a senadora é a aposta do PP para chegar ao Palácio Piratini. A possibilidade anima os militantes, mas é tratada com cautela pela direção. Com vistas a 2014, a sigla integra o grupo de partidos de oposição - com PMDB, PSDB, DEM e PPS - que começou a preparar um diagnóstico do governo estadual. A ideia é buscar o alinhamento dessas legendas em grandes temas, como educação, saúde, segurança, e iniciar um projeto conjunto, apontando problemas e discutindo soluções. “Queremos construir um caminho. Estamos começando cedo, os partidos nunca tiveram essa oportunidade de analisar uma estratégia conjunta. O que não quer dizer que esse bloco vai ter um candidato só (em 2014)”, projeta.
Jornal do Comércio - Qual é a sua avalição do governo Tarso Genro (PT)?
Celso Bernardi - O governador faz um esforço positivo para manter a imagem. Mas um governo deve resgatar os compromissos de campanha e isso ele está devendo. Não está resgatando os compromissos com o magistério. E entrou tarde em alguns processos, como (o que redefine a distribuição) dos royalties (do petróleo), por exemplo. E o Rio Grande do Sul, nos recursos voluntários (da União), tem recebido menos do que nos anos anteriores. Então, os resultados são bem inferiores ao que o Rio Grande do Sul merece. Há a criação de cargos... Até agora vimos um governo com boa imagem, mas que, em termos de resultados, está em débito com a sociedade.
JC - Tarso tentou atrair o PP ao governo. E agora vem dizendo que considera o PP um partido de centro, que não faz “oposição de direita, como o PMDB”.
Bernardi - Não teríamos a menor possibilidade de participar do governo. O partido é de oposição. E teremos candidato ou estaremos participando de uma coligação de oposição (ao Piratini, em 2014).
JC - O PP é de centro?
Bernardi - O partido se considera de centro... Mas não é o governador quem vai marcar o partido. Um partido fica marcado pela sua trajetória, projeto. Deve agir de acordo com os compromissos assumidos na campanha e estar a favor do interesse da população.
JC - O senhor falou que um partido tem que estar a favor do interesse do povo, mas o PP tem fama de ser o partido dos grandes empresários rurais, do agronegócio.
Bernardi - Mas qual é a vocação econômica do Rio Grande do Sul, de onde vem o PIB gaúcho? O partido sempre teve compromisso com o setor primário, o agronegócio, tivemos dois ministros da Agricultura. Eu sou filho de pequenos agricultores e a base do nosso partido está na pequena propriedade rural. Elegemos prefeitos que são lideranças do setor primário.
JC - O governador falou que o PP tem setores ligados aos grandes interesses do agronegócio...
Bernardi - O governador está querendo colocar essa marca no partido... Mas não temos vergonha do agronegócio, devemos ter orgulho. O partido defende o agronegócio, mas isso não quer dizer que não tenha compromisso com os pequenos. Temos é que trabalhar para que o produtor rural tenha condições de produzir mais e ter lucro. Agora, é uma contradição um candidato que fez campanha com o slogan “Rio Grande do Sul, do Brasil, do Mundo”: para exportar, tem que ser por commodities. É um equívoco do governador dizer que o nosso partido ou que a senadora é “não-sei-o-quê”...
JC - E a bancada do PP na Assembleia Legislativa? A senadora Ana Amélia comentou que a bancada perdeu a oportunidade de marcar posição quando não votou a favor da CPI dos Pardais.
Bernardi - Não tenho dúvida de que a bancada será oposição, essa é a orientação do partido. Tivemos uma questão na CPI, às vezes não dá para ter unanimidade. Os deputados decidiram aguardar e não se fechou questão para dar os votos necessários à CPI.
JC - Observa-se uma mudança na bancada do PP, até pelos discursos na tribuna, está fazendo uma oposição mais forte.
Bernardi - A orientação do partido sempre foi de fazer oposição. Desde o primeiro dia. E isso se faz com uma agenda de oposição, cobrando o governo, fiscalizando, mostrando incoerências.
JC - E o encontro entre dirigentes dos partidos de oposição no Estado? Qual é o propósito?
Bernardi - Foi uma primeira reunião dos partidos de oposição - PP, PMDB, PSDB, DEM e PPS. O governo tem pontos negativos, mas não vamos ficar em questões pontuais. Acordamos fazer um diagnóstico - através de um corpo técnico - de todas as ações do governo. Na próxima reunião, em novembro, cada partido vai levar questões sobre educação, saúde, segurança, seis ou sete assuntos.
JC - Questões de fundo.
Bernardi - Estamos procurando fiscalizar, acompanhar o governo Tarso, por um grupo técnico, para trabalhar questões de fundo. Vamos discutir uma agenda desses partidos em relação ao governo do Estado. E 2012 é ano de eleições municipais, vai haver um pequeno hiato. Esse grupo quer chegar a 2013, mantendo reuniões mensais, com um certo alinhamento da oposição. Queremos construir uma ideia, um caminho. Estamos começando cedo, os partidos nunca tiveram essa oportunidade de discutir as eleições para analisar uma estratégia conjunta. O que não quer dizer que esse bloco vai ter um candidato só (em 2014).
JC - O nome do PP, pelas manifestações de filiados, é Ana Amélia. Ela pode ser convencida a disputar a eleição de 2014?
Bernardi - A senadora está preocupada com o seu mandato, que, tenho certeza, vai ser altamente fecundo para Estado. Então, (2014) vai depender da decisão que ela tomar. O mandato é de oito anos, agora, servir ao Rio Grande... A senadora é a nossa grande protagonista em 2012, tanto em Porto Alegre quanto nos outros 496 municípios. Depois das eleições municipais começa o debate sobre a candidatura (em 2014). Nosso objetivo agora é 2012. Vou usar uma fala da senadora: “não se bota a carroça na frente dos bois”.
JC - A um ano das eleições, como está o PP gaúcho?
Bernardi - Nas últimas cinco eleições, por três vezes fomos o partido com maior número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Chegamos a eleger, em 2000, 174 prefeitos. Estamos com diretório municipal em 485 municípios. Hoje temos 148 prefeitos, 1.177 vereadores e 120 vice-prefeitos.
JC - Qual é a meta do PP para as eleições de 2012?
Bernardi - Ter 10% a mais do que temos hoje de prefeituras.
JC - Quais as cidades estratégicas para o PP no Estado?
Bernardi - Vai haver uma geração de candidatos exponenciais: Darcy Pozza, em Bento Gonçalves; Alcides Vicini, em Santa Rosa; Otomar Vivian, em Caçapava do Sul; o deputado Frederico Antunes, em Uruguaiana; Valdir Andres, em Santo Ângelo; Eloi Zanella, em Erechim; João Carlos Machado, em Camaquã; Elcio Siviero, em Veranópolis... Em Pelotas, o candidato que o (prefeito) Fetter (Júnior) apoiar pode sair vitorioso. Não se sabe se vai ser do PP, mas o partido estará na chapa majoritária.
JC - Quantos filiados tem o partido no Rio Grande do Sul?
Bernardi - Começamos o ano com 195 mil e aumentamos cerca de 10 mil filiados (até o início de outubro). E a eleição de 2012 tem uma diferença: teremos uma senadora, que considero a nossa grande líder e também a nossa eficiente operária, que fez conosco mais de 60 reuniões regionais neste ano.
JC - Por que com toda essa filiação o PP não tem uma expectativa de poder no Estado?
Bernardi - Hoje o partido tem uma expectativa de poder em 2014, em função de toda essa diferença que a senadora faz no nosso partido.
JC - Retomando 2012, há orientação para alianças?
Benardi - Damos plena autonomia para os diretórios municipais decidirem o caminho nas eleições. Não temos veto a nenhum partido.
JC - E em Porto Alegre?
Bernardi - Talvez pela primeira vez, em 2012, não tenhamos candidato na chapa majoritária, mas vamos decidir a questão somente em março de 2012.
JC - A senadora Ana Amélia disse que o prefeito José Fortunati (PDT) não estava dando a devida atenção ao PP. O senhor concorda?
Bernardi - O prefeito Fortunati, por várias razões, procurou primeiro ter uma conversa com os adversários (PT) para depois falar com os aliados. Talvez essa forma de agir tenha causado surpresa. Mas o prefeito foi à nossa convenção, fez um discurso muito elegante.
JC - O senhor não foi procurado ainda pelo PDT?
Bernardi - Tivemos uma conversa na convenção e conversaremos certamente com o partido, em nível municipal. Damos autonomia ao diretório municipal.
JC - Qual o critério para fazer as filiações? Considera-se a lei da ficha limpa, por exemplo?
Bernardi - Essa é uma grande questão que deve ser discutida dentro dos partidos. Não é apenas uma questão de quantidade, é também de qualidade. E o que se espera de um filiado? Que ele seja coerente com aquilo que o partido tem na sua doutrina, no seu programa, e também com o comportamento ético.
JC - O senhor acredita que com a Operação Rodin, o PP fez uma limpeza ética?
Bernardi - Não, o partido tem a mesma posição. Evidentemente, os que estão envolvidos, denunciados, vão se defender. A Justiça que vai decidir isso. Se eles cometeram equívocos, terão seguramente uma resposta da Justiça.
JC - E se forem condenados, qual a posição do partido?
Bernardi - Até hoje não temos nenhum condenado, nenhuma pessoa que tenha sido punida judicialmente. O partido gostaria de ver esse assunto resolvido satisfatoriamente com todos eles.
JC - Com mais de 25% dos prefeitos do PP do País aqui no Rio Grande do Sul, por que os gaúchos não têm uma participação maior na direção nacional do partido?
Bernardi - Já tentamos. Eu entei duas vezes ser presidente nacional do partido e nas duas vezes fui derrotado pelo Paulo Maluf. Mas hoje temos um grande presidente, o senador Francisco Dorneles deu outra posição moral, ética ao partido. E o Rio Grande do Sul está afinadíssimo com o PP nacional.
JC - Mas não teria que ser oposição à presidente Dilma Rousseff (PT) se estivesse alinhado?
Bernardi - Foi uma decisão do próprio diretório nacional. Aqui a decisão foi de não apoiar Dilma e apoiar o José Serra (PSDB).
JC - Qual é a sua avaliação do governo federal?
Bernardi - A presidente, a exemplo do governador, está com uma boa imagem. Mas os resultados do governo são pequenos também. Não tenho visto nada de excepcional.
JC – Em relação aos repasses, o governador argumentou que está tratando questões de fundo e deu o exemplo do metrô.
Bernardi - Recebo o metrô com muita alegria. Agora, por que é a única obra do metrô em que o município e o Estado têm que participar com R$ 1 bilhão? E o “alinhamento das estrelas”?
JC - O senhor pensou em perguntar isso para o ministro das Cidades, Mário Negromonte, do seu partido?
Bernardi - Mas a decisão foi da presidente. Foi uma conquista, mas vai custar para nós também, sendo que poderíamos ter esses recursos, do Estado e do município, aplicados aqui em saúde.
Perfil
Celso Bernardi tem 68 anos e é natural de Augusto Pestana (RS). Radicado em Santo Ângelo, formou-se técnico em Contabilidade e depois graduou-se em Direito. Secretário de escola concursado, lecionou Geografia e História e atuou como advogado. Técnico-científico, foi cedido para a Secretaria Estadual da Educação em 1979, quando veio para Porto Alegre. Atuou como chefe de gabinete do secretário até 1986 e retornou ao IPE. No mesmo ano, elegeu-se deputado estadual pelo PDS. A vida política começou duas décadas antes no movimento estudantil - era vice-presidente da UGES em 1964, no golpe militar, e deixou o cargo. Ingressou na Arena nos anos 1970, época em que foi secretário-geral do Município, em Santo Ângelo. Em 1990, elegeu-se deputado federal. Em 1993 assumiu a presidência da sigla (hoje PP) e ficou por 12 anos. Disputou o governo do Estado em 1994 e em 2002. Em 2007, assumiu a Secretaria Estadual de Relações Institucionais e, em 2009, a diretoria de Operações do Brde, no governo Yeda Crusius (PSDB). Neste mês, foi eleito presidente do PP.
Publicada na edição impressa do dia 24/10/2011